quinta-feira, 27 de junho de 2013

Memórias do dossel

por João Marcos Rosa em 25 de junho de 2013

Semana passada, fui convidado pelo professor Sérvio Ribeiro, biólogo da Universidade Federal de Ouro Preto, para apresentar alguns trabalhos em uma reunião do Clube de Ciência, em Belo Horizonte. O projeto reúne pesquisadores da região para falar, em ambiente mais informal, de estudos a respeito do dossel, como é chamado o estrato superior da floresta tropical.

Acalorados em discussões sobre os protestos que acontecem pelo Brasil, lembramos do nosso primeiro encontro no parque estadual Rio Doce, leste de Minas Gerais. Na ocasião, Sérvio organizava um Curso de Pesquisa em Dossel e eu produzia uma reportagem para um jornal. Aproveitei que estava no parque e propus ao editor Ronaldo Ribeiro o que seria a minha primeira reportagem para a revista National Geographic Brasil.

Além das portas abertas para a publicação que sempre admirei, minha fotografia, a partir dessa viagem, teve seus horizontes renovados: o dossel, o topo das florestas.

Apesar do medo de altura que sempre me acompanhou, foi paixão à primeira vista. Literalmente. A partir do dia em que alcancei o topo de uma árvore, foram milhares de horas passadas naquele ambiente, em alturas que ultrapassaram os 50 metros. De lá, pude observar a beleza da floresta e suas espécies de um ponto de vista especial.

Curioso para conhecer um pouco mais sobre o dossel? Confira as imagens abaixo e visite os links com reportagens dos fotógrafos de National Geographic Tim Laman (Aves-do-paraíso: paraíso encontrado) e Michael Nichols (As superárvores), produzidas também no alto das árvores.


Vale o esforço para ter a vista do alto da Floresta Nacional de Carajás, Pará.


O escalador Olivier Jaudoin se aproxima de um ninho de harpia. Carajás, Pará.


O pesquisador Benjamin da Luz relaxa em sua rede na Mata Atlântica baiana.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

A revolução das árvores na Turquia

Os últimos acontecimentos de Istambul, Turquia relatados por uma blogueira turca:

"Estou escrevendo para que entendam o que está acontecendo em Istambul nos últimos 5 dias. Pessoalmente, eu tenho que escrevê-lo porque a maioria dos meios de comunicação são calados pelo governo e o boca-a-boca e a internet foram as únicas maneiras que nos restaram para nos explicarmos e gritarmos por ajuda e suporte.

Há quatro dias (28/05/2013) um grupo de pessoas alheias a qualquer organização ou ideologia específica se juntaram no Istanbul's Gezi Park (um importante parque central da cidade). Seus motivos eram simples: prevenir e protestar contra a demolição agendada de todo o parque para a construção de um shopping bem no centro da cidade. Existem numerosos shoppings em Istambul, pelo menos um em cada bairro! O corte das árvores estava programado para iniciar na quinta-feira (28) pela manhã. As pessoas foram até lá: mulheres com seus lenços, pessoas com seus livros, famílias com crianças. Ocuparam a praça com suas barracas e passaram a noite sob as árvores. Na manhã seguinte, quando os tratores começaram a destruir algumas árvores centenárias, as pessoas se puseram no caminho dos operários para interromper a demolição.



Eles não fizeram nada além de manter-se parados frente às máquinas.

Nenhum jornal, nenhum canal de televisão, ninguém estava lá para cobrir o protesto. Houve um completo blecaute da informação por parte da mídia.

Mas a polícia chegou: com seus veículos com canhões de água e spray de pimenta a jato, eles perseguiram a todos em volta do parque.

À noite, o número de protestantes se multiplicou. O mesmo aconteceu com a força policial. Enquanto isso, o governo local de Istambul desabilitou todas as formas de entrada para a Taksim Square, aonde o Gezi Park está localizado. O metrô foi bloqueado, assim como todos os transportes coletivos e inclusive algumas ruas.

Ao contrário do que se queria, mais e mais pessoas marchavam a pé rumo ao centro de Istambul.

Eles vinham de toda parte. Vinham com diferentes passados, diferentes ideologias, diferentes religiões. Todos se reuniram para prevenir a demolição de algo maior do que o parque: O direito de viver como cidadãos honrados de seu país.

Eles se reuniram e marcharam. A polícia os perseguiu com spray de pimenta e muito gás lacrimogênio. Avançavam com seus tanques sobre todos que se colocavam no caminho. Dois jovens foram atropelados e mortos pelos tanques. Outra jovem, uma amiga minha, foi atingida na cabeça por uma lata de gás lacrimogênio. A polícia atirava à queima-roupa e a acertou em cheio, resultando num traumatismo craniano. Ela se encontra em estado grave no hospital.



Estas pessoas são minhas amigas. Meus alunos, meus parentes. Não existe uma <> como o Estado gosta de afirmar. Sua agenda está aí, e está muito clara. O país inteiro está sendo vendido pelo governo às grandes corporações, para a construção de shoppings, condomínios de luxo, rodovias, plantas nucleares. O governo está procurando (e criando quando necessário) qualquer desculpa para atacar a Síria contra a vontade de seu povo.

Acima de tudo isso, o controle do governo sobre a vida das pessoas tem se tornado insuportável nos últimos tempos. O Estado, sob sua agenda conservadora, passou muitas leis e regulamentações relativas ao aborto, à venda e ao uso de álcool e até mesmo restrições sobre a cor do batom das aeromoças das linhas aéreas da Turquia.

As pessoas que estão marchando no centro de Istambul estão demandando o direito de viver livremente e receber justiça, proteção e respeito de seu Estado. Eles demandam envolvimento nas decisões de interesse público do lugar onde vivem.

O que eles receberam além de força excessiva e numerosas quantidades de gás lacrimogênio direto em seus rostos?

Apesar das duas mortes, dos feridos, ou até das duas pessoas que perderam a visão, ainda estão todos lá. Milhares de pessoas se juntando a cada dia.

Escolas, hospitais e até mesmo hotéis 5 estrelas ao redor da Taksim Square abriram suas portas às pessoas feridas. Médicos encheram salas de aula para prover primeiros socorros. Alguns policiais se recusaram a jogar spray em pessoas inocentes e se demitiram.

Ao redor da praça, a polícia colocou bloqueadores de sinal para impossibilitar as pessoas de se comunicarem com seus sinais 3G. Residentes e comerciantes da área disponibilizaram zonas de wireless para que as pessoas conseguissem acesso. Restaurantes estão provendo comida e água sem custo.

Pessoas em Ankara e Izmir se reuniram nas ruas para apoiar a resistência de Istambul.

E os meios de mídia continuam mostrando a Miss Turquia e o gato mais estranho do mundo."

Texto original: http://goo.gl/w37Xr