Por Rafael Sampaio Do Globo Natureza, em São Paulo
Pesquisa estima que 25 mil espécies vivam em floresta no Panamá. Levantamento foi publicado na 'Science', nesta sexta-feira (14).
Besouro encontrado na floresta de San Lorenzo, no Panamá; cientistas estimam que existam 25 mil espécies de artrópodes na região (Foto: Divulgação/Projeto Ibisca/'Science')
Um estudo internacional reunindo mais de cem pesquisadores de 21 países, inclusive do Brasil, calculou a quantidade de espécies de artrópodes (incluindo insetos, aracnídeos e crustáceos) que habitam uma floresta tropical. A estimativa é que 18,4 mil espécies, em média, existam a cada 10 mil m² ou um hectare de mata, segundo levantamento na reserva florestal de San Lorenzo, no Panamá. Para chegar ao resultado, os cientistas coletaram cerca de 130 mil espécimes de artrópodes ao longo dos últimos dez anos, disse ao G1 o professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), Sérvio Ribeiro, especializado em ecologia e interação entre insetos e plantas.
Separando animais repetidos e usando modelos matemáticos, os cientistas estimaram em cerca de 25 mil as espécies de artrópodes nos 60 km² da floresta, segundo o levantamento publicado na revista "Science", nesta sexta-feira (14).
O cálculo é inédito, diz o professor da Ufop. "Até hoje os cientistas não conseguem responder quantas espécies de artrópodes existem no planeta", diz ele. A pesquisa dá um primeiro passo em busca desta resposta, já que estes seres são abundantes em matas tropicais e representam 95% de todas as espécies de animais do planeta. "Esta é a primeira quantificação feita em uma floresta. Só isso é um feito, é importante por si só."
Ribeiro participou ativamente do estudo junto com outros três cientistas brasileiros. O levantamento é parte do Projeto Ibisca-Panamá, e foi liderado pelo Centro de Estudos Tropicais do Instituto Smithsonian, dos Estados Unidos.
Pesquisadores coletam insetos de uma gôndola pendurada em um guindaste, na floresta do Panamá (Foto: Divulgação/Projeto Ibisca/'Science')
Foram coletados desde artrópodes no solo, próximos às raízes das plantas, até os que vivem nas copas das árvores. Foram usados guindastes, flutuantes, pequenos balões e uma série de outros aparelhos, aponta o professor da Ufop. "Um grande diferencial deste trabalho foram os equipamentos, uma série de invenções feitas por um grupo francês que se associou com o Smithsonian para agregar estas facilidades, que nos ajudaram a chegar nas copas das árvores."
Para cada 10 mil m² ou um hectare de mata, foram encontrados 60% ou dois terços do total de espécies que existem em toda San Lorenzo, diz Ribeiro. "Isso significa que a maioria das espécies tem populações espalhadas por toda a floresta", ressalta. A descoberta indica que nenhum ecossistema evoluiu sem uma influência intensa os insetos, aracnídeos e crustáceos, de acordo com o cientista.
"Sem os insetos, nenhum bioma vai funcionar direito. Não vai capturar carbono, reciclar nutrientes ou garantir chuva. É preciso levar isso em consideração na hora de preservar", ressalta o pesquisador.
Um bom indicador do número de espécies de artrópodes em uma floresta é a variedade de plantas, segundo o estudo. Pela estimativa, para cada espécie de vegetal há 17 tipos de insetos, aracnídeos ou crustáceos; para cada espécie de ave, 71 de artrópodes foram encontradas; e para cada espécie de mamífero, nada menos que 270 variedades de artrópodes foram identificadas em San Lorenzo.
"Os mamíferos e as aves não vão dizer tanto sobre a floresta quanto a fantástica diversidade de artrópodes que devem existir naquela região", pondera o professor da Ufop.
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FONTE: http://g1.globo.com
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