segunda-feira, 3 de junho de 2013

A revolução das árvores na Turquia

Os últimos acontecimentos de Istambul, Turquia relatados por uma blogueira turca:

"Estou escrevendo para que entendam o que está acontecendo em Istambul nos últimos 5 dias. Pessoalmente, eu tenho que escrevê-lo porque a maioria dos meios de comunicação são calados pelo governo e o boca-a-boca e a internet foram as únicas maneiras que nos restaram para nos explicarmos e gritarmos por ajuda e suporte.

Há quatro dias (28/05/2013) um grupo de pessoas alheias a qualquer organização ou ideologia específica se juntaram no Istanbul's Gezi Park (um importante parque central da cidade). Seus motivos eram simples: prevenir e protestar contra a demolição agendada de todo o parque para a construção de um shopping bem no centro da cidade. Existem numerosos shoppings em Istambul, pelo menos um em cada bairro! O corte das árvores estava programado para iniciar na quinta-feira (28) pela manhã. As pessoas foram até lá: mulheres com seus lenços, pessoas com seus livros, famílias com crianças. Ocuparam a praça com suas barracas e passaram a noite sob as árvores. Na manhã seguinte, quando os tratores começaram a destruir algumas árvores centenárias, as pessoas se puseram no caminho dos operários para interromper a demolição.



Eles não fizeram nada além de manter-se parados frente às máquinas.

Nenhum jornal, nenhum canal de televisão, ninguém estava lá para cobrir o protesto. Houve um completo blecaute da informação por parte da mídia.

Mas a polícia chegou: com seus veículos com canhões de água e spray de pimenta a jato, eles perseguiram a todos em volta do parque.

À noite, o número de protestantes se multiplicou. O mesmo aconteceu com a força policial. Enquanto isso, o governo local de Istambul desabilitou todas as formas de entrada para a Taksim Square, aonde o Gezi Park está localizado. O metrô foi bloqueado, assim como todos os transportes coletivos e inclusive algumas ruas.

Ao contrário do que se queria, mais e mais pessoas marchavam a pé rumo ao centro de Istambul.

Eles vinham de toda parte. Vinham com diferentes passados, diferentes ideologias, diferentes religiões. Todos se reuniram para prevenir a demolição de algo maior do que o parque: O direito de viver como cidadãos honrados de seu país.

Eles se reuniram e marcharam. A polícia os perseguiu com spray de pimenta e muito gás lacrimogênio. Avançavam com seus tanques sobre todos que se colocavam no caminho. Dois jovens foram atropelados e mortos pelos tanques. Outra jovem, uma amiga minha, foi atingida na cabeça por uma lata de gás lacrimogênio. A polícia atirava à queima-roupa e a acertou em cheio, resultando num traumatismo craniano. Ela se encontra em estado grave no hospital.



Estas pessoas são minhas amigas. Meus alunos, meus parentes. Não existe uma <> como o Estado gosta de afirmar. Sua agenda está aí, e está muito clara. O país inteiro está sendo vendido pelo governo às grandes corporações, para a construção de shoppings, condomínios de luxo, rodovias, plantas nucleares. O governo está procurando (e criando quando necessário) qualquer desculpa para atacar a Síria contra a vontade de seu povo.

Acima de tudo isso, o controle do governo sobre a vida das pessoas tem se tornado insuportável nos últimos tempos. O Estado, sob sua agenda conservadora, passou muitas leis e regulamentações relativas ao aborto, à venda e ao uso de álcool e até mesmo restrições sobre a cor do batom das aeromoças das linhas aéreas da Turquia.

As pessoas que estão marchando no centro de Istambul estão demandando o direito de viver livremente e receber justiça, proteção e respeito de seu Estado. Eles demandam envolvimento nas decisões de interesse público do lugar onde vivem.

O que eles receberam além de força excessiva e numerosas quantidades de gás lacrimogênio direto em seus rostos?

Apesar das duas mortes, dos feridos, ou até das duas pessoas que perderam a visão, ainda estão todos lá. Milhares de pessoas se juntando a cada dia.

Escolas, hospitais e até mesmo hotéis 5 estrelas ao redor da Taksim Square abriram suas portas às pessoas feridas. Médicos encheram salas de aula para prover primeiros socorros. Alguns policiais se recusaram a jogar spray em pessoas inocentes e se demitiram.

Ao redor da praça, a polícia colocou bloqueadores de sinal para impossibilitar as pessoas de se comunicarem com seus sinais 3G. Residentes e comerciantes da área disponibilizaram zonas de wireless para que as pessoas conseguissem acesso. Restaurantes estão provendo comida e água sem custo.

Pessoas em Ankara e Izmir se reuniram nas ruas para apoiar a resistência de Istambul.

E os meios de mídia continuam mostrando a Miss Turquia e o gato mais estranho do mundo."

Texto original: http://goo.gl/w37Xr

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