domingo, 3 de agosto de 2008

MATÉRIA DA FOLHA ON LINE 23/05/2002 - 08h27

Pular de galho em galho é novo esporte KATIA DEUTNERfree-lance para a FolhaSe um amigo ou seu chefe lhe convidar para praticar arborismo, não pense que você irá cavar uma cova no jardim mais próximo e plantar uma árvore. Conhecida também como arvorismo e verticália, essa atividade é um misto de esporte radical com passeio ecológico -nas alturas. Usando escadas, cordas, cabos e plataformas, o praticante se locomove entre copas de árvores. "Você se sente um macaquinho, pulando entre as árvores", diz a fonoaudióloga Patrícia Pitsch, 29. Praticado principalmente na França, na Nova Zelândia e na Costa Rica, o arborismo chegou ao Brasil há cerca de quatro anos, mas ainda não é muito conhecido. Os pesquisadores foram os primeiros a praticar essa atividade, utilizando equipamentos que lhes permitiam observar melhor a vegetação e os pássaros. "Ainda hoje, os estudiosos chegam a passar uma ou duas noites no topo das árvores", afirma Edner Antonio Brasil, instrutor do Copera (Centro Operacional Ambiental), que organiza circuitos de verticália. O arborismo é um bom começo para quem nunca praticou esportes radicais, pois não exige muito condicionamento físico nem habilidade especial. "Só é preciso ter coragem, coordenação e agilidade para enfrentar os obstáculos", afirma o francês Jean Claude Razel. No ano passado, ele montou o Verticália, primeiro circuito fixo de arborismo do Brasil, e um percurso exclusivo para crianças, ambos localizados em Brotas (245 km de SP).SegurançaOs praticantes fazem um aquecimento e aprendem a usar corretamente uma espécie de cinto de segurança, o trava-quedas, antes de subir até a plataforma da primeira árvore, instalada em alturas que variam de 3 m a 10 m. A escalada é realizada com o auxílio de escadas de corda e madeira, redes especiais e agarras.Os trechos aéreos, entre uma árvore e outra, são vencidos com cabos, túneis, cordas, pontes pênseis, redes e tirolesas. E essa é a melhor parte, segundo alguns praticantes. "O melhor é a adrenalina que você sente ao passar de um lado para o outro", diz o publicitário Eduardo Tonetti, 32.Para evitar acidentes, os praticantes são acompanhados por monitores e ficam presos, por meio de mosquetões, a cordas de suporte durante todo o percurso. E ninguém é obrigado a ir até o fim. Quem não gostar da experiência pode interromper o percurso sem prejudicar o resto do grupo.O tamanho dos circuitos varia, mas o grau de dificuldade aumenta a cada fase. O Verticália, por exemplo, oferece 36 atividades em cinco trechos aéreos e demora mais de duas horas para ser completado. "A sensação de satisfação é indescritível, você volta renovado. O mais gostoso é superar seus limites e descobrir que você é mais forte do que pensa", conta o analista de sistemas Wilton Feitosa.O único fator que impede a prática do arborismo é a altura. Pessoas com menos de 1m40 não podem participar dos percursos. A partir dos dez anos, as crianças podem fazer os circuitos desde que estejam acompanhadas pelos pais ou pelos responsáveis, explica Mateus Vieira, coordenador técnico da Saga Trek, que possui um percurso em Analândia (222 km de São Paulo). Foi o proprietário dessa agência, o montanhista Luiz Alberto Martinez, que começou a difundir o arborismo no país, aproveitando árvores fortes e altas, como o eucalipto, para montar circuitos itinerantes no interior de São Paulo.O esporte está ganhando adeptos até no mundo corporativo. Algumas empresas têm usado percursos de verticália para motivar seus funcionários, estimulando a capacidade de planejamento, de liderança e de trabalhar em grupo. Esses circuitos podem ser montados em qualquer lugar que ofereça condições físicas para a prática do esporte.As empresas que possuem ou organizam percursos de verticália fornecem todo o equipamento necessário, como mosquetões e capacetes. O preço da aventura varia de R$ 40 a R$ 45 por percurso. Para os mais independentes, o Copera dá cursos que ensinam desde as técnicas do arborismo até como criar circuitos com segurança e sem provocar fortes impactos ambientais.As peripécias do percurso
Escalar escadas de madeira ou de corda
Subir em troncos com encaixes para os pés e as mãos
Caminhar sobre pranchas de madeira equipadas com garras de escalada, colocadas entre os galhos das árvores
Subir e descer redes parecidas com as de pesca
Usar tirolesas ("cadeiras" presas a ganchos colocados em cabos de aço) para passar da copa de uma árvore para a outra
Cruzar pontes pênseis
Percorrer túneis colocados entre os galhos
Andar em "falsas baianas", técnica militar em que o participante atravessa as árvores apoiado em cordas paralelas (uma para as mãos, outra para os pés)