quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Diversão de galho em galho - Karina Miotto* 17/10/2008, 09:00 - http://www.oeco.com.br

Muita gente acha que subir em árvores para se divertir é privilégio de criança. Que nada. Além das próprias pernas – como fazíamos em nossa infância – é possível chegar perto do topo de outra forma. Com técnica e tranqüilidade, muitas pessoas começam a descobrir o prazer de praticar o que mundo afora é conhecido como Recreational Tree Climbing (Escalada Recreativa em Árvore). Escalada em árvores existe há tempos, mas em 1983 o americano Peter Jenkins, também fundador da Tree Climbers International (TCI), decidiu abrir em Atlanta, Geórgia (EUA), a primeira escola especializada em escalada recreativa no planeta. Ele foi atrás de bons materiais como cadeirinha, mosquetões, luvas, óculos transparentes, capacete e tubo de plástico, que diminui o atrito entre a corda e os galhos, entre outras coisas. Também aperfeiçoou antigas técnicas e começou a trabalhar, lecionando cursos ou apenas levando pessoas às árvores por algumas horas. Neste caso, os participantes não aprendem a técnica, mas escalam com a supervisão do instrutor. Foi o suficiente para que a atividade se popularizasse. A escalada é muito melhor se feita no estilo “devagar e sempre”. Ao começar, já dá para ter uma idéia da visão fantástica que é possível ter. Os pássaros voam ao seu redor – tem lugar melhor para birdwatching? - e você repara em todas as forma de vida que fazem da árvore o seu lar doce lar. Sente o vento batendo na cara, a árvore se movendo e você balançando junto, lentamente. Palavra de quem já escalou.

Técnicas de escalada em árvores
É possível praticar a atividade com o uso de duas técnicas diferentes. A chamada Doubled Rope Technique (DRT) que, em português, pode ser traduzido como “técnica de corda dupla”, normalmente é utilizada por quem prefere escalar árvores de pequeno a médio porte (de 4 a 5 metros e de 5 a 8, respectivamente). As mais altas devem ser escaladas com o método Single Rope Technique (SRT), ou “técnica de corda única”. E atenção escaladores: cordas para esta atividade não são as mesmas utilizadas em rapel.Para o bem das árvores, os organizadores dizem que o esporte causa o mínimo de impacto. Por exemplo: o pedaço da corda que toca o galho escolhido por quem vai realizar a escalada fica envolto em um pequeno tubo de plástico, criado para diminuir o atrito e, assim, poupar a árvore. Outra coisa que ajuda é escalar desviando de galhos, de forma cuidadosa. No Brasil, árvores como mangueira e mogno poderiam render bons momentos aos escaladores. Antes de escalar, a árvore deve ser cuidadosamente inspecionada. O praticante treinado ou o instrutor precisam estar certos de que ela é segura. Então, observam a base, o solo, o tronco, os galhos, as folhas atrás de sinais de que ela pode estar doente, oca, com cupins etc. Com binóculos à mão, procuram possíveis ninhos de pássaros e lares de vespas e abelhas, para evitar surpresas com enxames. Se o praticante respeitar todos os procedimentos da escalada, pode ficar tranqüilo. De acordo com a TCI, nunca houve registro de acidente.

Pioneiros do esporte

Tim Kovar é fundador da Tree Climbing Northwest (TCNW), diretor de operações internacionais da TCI e foi o primeiro instrutor a ser treinado por Jenkins. Ele conta que em 15 anos de carreira já levou às árvores mais de cinco mil pessoas entre quatro e 86 anos. “Qualquer um que tenha vontade pode praticar tree climbing, independente de suas capacidades físicas”, afirma Kovar. Em 1997, Hikosaka Toshiko, uma mulher paraplégica de 57 anos, fez um pedido ao americano John Gathright, considerado celebridade no Japão – entre outras coisas, ele é escritor, apresentador de programa de TV e um tree climber de carteirinha. Ela desejava escalar uma árvore também, mas não uma baixinha. O sonho dela era chegar ao topo da mais alta do mundo.Um ano depois, John se reunia com Peter Jenkins para estudar a melhor maneira de ajudá-la. Em 2001, ela não apenas escalou como também passou a noite em uma sequóia a 80 metros do chão. Como diz John, “foi sobre estas raízes que nasceu o Tree Climbing Japan” que hoje, além de ensinar escalada recreativa, também promove o Programa Treehab para Portadores de Deficiência. Tem sido um sucesso. Desde sua fundação, o Tree Climbing Japão (TCJ) já levou mais de 150 mil pessoas às árvores. Graças ao sonho de Hikosaka e aos esforços de John, a atividade cresce no país a ritmo acelerado. Nos Estados Unidos, está cada vez mais popular. De acordo com a TCI, o número de praticantes aumentou bastante nos últimos dez anos. França, Inglaterra, Escandinávia e Austrália também têm ganhado mais adeptos.

Escalada em árvores no Brasil

Os escaladores afirmam que, por inúmeras razões, a Amazônia é o melhor palco para dar início à atividade no Brasil. “A prática de tree climbing pode beneficiar comunidades locais, o turismo, pesquisas, estimular a educação ambiental - e isso tudo pode ajudar a floresta”, diz Kovar. “Os brasileiros têm árvores esplêndidas em um ambiente único como a Amazônia. Muitas pessoas gostariam de escalar lá”, completa Jenkins. De acordo com Patty Jenkins, coordenadora da TCI, ainda não existe nenhum instrutor treinado pela instituição no Brasil. Pessoas não certificadas podem ensinar, mas isso pode ser perigoso para alunos e demais praticantes. “Eles não saberão a diferença entre a escalada segura e aquela que poderia causar um acidente”, complementa Kovar, que em breve deve desembarcar na Amazônia para uma temporada de cursos voltados a turistas e pesquisadores. Além de exercitar os músculos, no nível mental essa atividade é capaz de promover o relaxamento que ajuda na solução de problemas. “Você pode aprender sobre suas limitações pessoais e ver sua auto-confiança crescer à medida em que enfrenta mudanças e velhos medos”, diz Kovar. A aluna Ginger Mallard também saiu da aula de uma semana com suas reflexões. “Muita gente quando pensa na natureza foca em como tirar proveito dela, sem se lembrar de que nela podemos ter deliciosos momentos de alegria. Foi um grande aprendizado”. Essas palavras complementam as de Sophia Sparks, fundadora da New Tribe, considerada por instrutores uma das melhores fabricantes de guias de tree climbing. Para ela, “muitas pessoas tendem a ver a árvore como um amontoado de folhas verdes. Porém, depois de escalar, adquirem uma compreensão profunda do que ela é: um ser vivo que é uma comunidade de outros seres viventes. Esta experiência abre corações e mentes que, uma vez sensibilizados, geram inevitáveis mudanças de atitudes”. Bom para quem escala, para a árvore e, em termos gerais, para você também.

Serviço

Para praticar a escalada em árvores recomenda-se recorrer a instrutores devidamente treinados. Os preços de aulas que tem duração de uma semana são, em média, 900 dólares.
Tree Climbing Northwest
TCI
TCUSA
Dancing With Trees

* Karina Miotto é jornalista em Manaus, ama tree climbing e é autora do blog Eco-Repórter-Eco.

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