sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

FLORESTA EM PÉ GERA TRABALHO E RENDA PARA COMUNIDADE NO INTERIOR DE SÃO PAULO



Por Adriano Avila - avila.adriano@gmail.com

Senhoras de 54 anos escalam árvores de até 40 metros para coletar sementes que vendidas ajudam no sustento da família. Mais 29 pessoas fazem o mesmo a prática é uma opção de renda pra moradores de área rural que vive próximo das matas. “Já vi macaco cair de árvore, mas eu não caio!” Assim diz: Dona Maximina com as mãos cheias de sementes,e debruçada tranquilamente sobre um galho, na copa de um pé de "falso barbatimão” nome cientifico: (Cácia leptófila). Maximina Aparecida de Queiroz com 54 anos escala árvores de até 40 metros de altura em busca de sementes de espécies nativas que vendidas, ajudam no sustento da família. Não é fácil, segundo ela, “colher sementes não é pra quem pensa no dinheiro, é pra quem faz de coração. O jovem não quer entrar na mata, é preciso gostar, conhecer a planta, aprender a identificar e a trabalhar com a semente.” Dona Maximina e sua companheira de trabalho, Claudete, caminham de cinco a dez quilômetros para encontrar determinadas espécies.
Na maioria das árvores as sementes se encontram nas copas, então é preciso escalar, em até oito metros elas não usam equipamentos, acima disso, sobem com o auxílio de uma corda e equipamentos de escalada. Muitas árvores estão cobertas de espinhos e isso dificulta muito, principalmente o manuseio do podão, uma ferramenta que corta a ponta do galho, onde geralmente encontram-se as sementes. “não podemos colher tudo o que a árvore produz, temos que deixar a maior parte, a semente precisa cumprir o seu papel: se perpetuar e alimentar os bichos”.
E finalmente a etapa de beneficiamento, nome usado no processo, entre colher e deixar em ponto de germinação. Cada espécie de semente recebe um determinado tratamento até chegar ao viveiro. Lavagem, secagem, no sol, na sombra, descascar, limpar, armazenar, embalar, etc.
Das árvores da Mata Atlântica na região da bacia do Alto Paranapanema entre as cidades de Capão Bonito, Ribeirão Grande e Guapiara no interior paulista, trinta e dois coletores garantem uma boa parte da renda familiar. A prática é uma opção aos moradores de áreas rurais, próximos às matas, e lucram em torno de um salário mínimo por mês, dependendo da dedicação, podem faturar muito mais. A idéia nasceu há cinco, Seu Zé Ferreira prestava serviços à Bio Flora, empresa de reflorestamento, ajudava no plantio de mudas para recuperação de uma área de compensação ambiental da Cimento Ribeirão em Ribeirão Grande. Curioso, Seu Zé questionou a origem das sementes, procurou o Engenheiro Florestal e a Associação Ecoar Florestal, que forneceu as mudas nativas, e demonstrando conhecimento no assunto, ofereceu algumas sementes e a sugestão foi aprovada.
A Associação ECOAR Florestal, organização não governamental atua a 13 anos em conservação florestal e em projetos sócio-ambientais, visando a geração de renda para o proprietário rural. Com apoio da Votorantim Celulose e Papel, trabalha junto com o grupo para a sustentabilidade da Rede Comunitária de sementes nativas. E também ajudam no preparo e na estrutura dos coletores, com cursos de capacitação, uso do GPS, beneficiamento e escalada. Hélio Porangaba, um dos técnicos da ONG afirma que mais de 180 espécies são coletadas durante o ano, e comercializadas com a finalidade de reflorestamento. Há aproximadamente cinqüenta clientes cadastrados, dentre eles, a SOS Mata Atlântica, a VCP Papel e Celulose, Iandebo e a própria ECOAR com seu viveiro de mudas. No geral são ONGs, mineradoras ou grandes agricultores, empresas que buscam uma forma de adequação ambiental. As sementes são usadas na recuperação de áreas degradadas e restauração florestal.
Novas comunidades interessadas em participar do projeto procuraram a ECOAR, Hélio lamenta não ter apoio empresarial, sendo uma oportunidade de responsabilidade sócio-ambiental preparar novos grupos de coletores. O investimento com os cursos, ferramentas e principalmente os equipamentos de escalada é muito alto.
Uma possível parceria com a IPEF, Instituto de Pesquisas de Estudos Florestais, que trabalha com pesquisas florestais, planejamento, comercialização de mudas e sementes, promete amenizar alguns desses problemas, a ONG dispõe-se de logística e de tecnologias de beneficiamento. Espera-se o aumento de clientes e conseqüentemente, o crescimento da rede de coletores, dando oportunidade às comunidades vizinhas que tenham interesse e vocação.


FONTE: http://www.portaldomeioambiente.org.br
Matéria postada em 12/12/2009

Nenhum comentário: